quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

RADIALISTA ZEILTO TRAJANO

Nias Gadelha, Zeilto Trajano e Julio Bandeira


Muitos radialistas não cajazeirenses e sim cajazeirados, fizeram história na “Cidade que ensinou a Paraíba a ler” e um deles foi marcante na história da radiodifusão de Cajazeiras. Seu nome é Zeilto Trajano de Sousa, que nasceu em Pombal, Paraíba, em abril de 1944.

Zeilto casou-se com a senhora Francisca de Lima Sousa e era pai de quatro lindas meninas: Nadja, Alba, Kátia e Márcia. Era filho de Otacílio e Nely, e tinha como irmãos; Socorro, Zelita, Zita, Maria do Carmo e Otacílio Trajano, que também militou ou milita no rádio.

Ele iniciou suas atividades em Pombal em microfone de serviços de alto falantes, no início da década de 60, em carro de som, que circulava nas ruas de Pombal, fazendo propaganda das Lojas Paulista. Aos sábados ele ficava nas portas da referida loja convocando as pessoas que por ali passavam a entrarem e comprar produtos mais baratos.

Tempos depois ele foi trabalhar na Difusora Rádio Maringá, de propriedade do senhor Raimundo Lacerda, conhecido por Raimundo Sacristão). Em 1967, Zeilto recebeu convite para trabalhar na Rádio Alto Piranhas, de Cajazeiras, emissora da Paróquia, que era conhecida como a Rádio do Bispo e em pouco tempo que estava nessa emissora começou a exercer o cargo de diretor. Ele também era narrador esportivo da emissora. Zeilto veio a projetar-se na Rádio Alto Piranhas e conquistou audiência com programas criados por ele, a exemplo da “Discoteca Dinamite”, de cunho jornalístico, juntamente com o médico doutor Júlio Bandeira de Melo. Outro programa de Zeilto com grande audiência na região, era aos domingos, “Encontro com Nelson”, onde rolava músicas de Nelson Gonçalves e outros cantores. Ao completar 15 anos com esse programa, ele teve a oportunidade de entrevistar no seu programa o referido cantor.

Zeilto Trajano teve a oportunidade de transmitir direto de sua cidade, Pombal, através dos microfones da Rádio Alto Piranhas, a Festa do Rosário, a mais conhecida festa religiosa da região. Transmitiu ainda uma festa direto do Pombal Ideal Clube, intitulada “A Paraíba em Uma Noite”. Fez também a cobertura da inauguração da rodovia federal BR 427, que liga Pombal ao Rio Grande do Norte, com a presença do então ministro dos Transportes, Mário Andreazza.

Ele criou slogans para enaltecer Cajazeiras onde costumava dizer através dos microfones da Rádio Alto Piranhas, “Minha Linda Cajazeiras” e uma vinheta da emissora: “Rádio Alto Piranhas, a única emissora de Cajazeiras, na Paraíba, que o Nordeste conhece”.

Zeilto também tinha na veia, uma outra habilidade: a música. Ele fundou uma orquestra em Cajazeiras, chamada de “Chaveron”. Tempos depois fundou mais duas orquestras com os nomes de “Chavereque” e “Oritimbó”, que animavam as matinês dos clubes na época dos carnavais de Cajazeiras. Ele compôs uma música carnavalesca intitulada “Maroaje”.

Depois de 18 anos na Rádio Alto Piranhas, Zeilto foi trabalhar na Rádio Arapuã, de João Pessoa, assumindo a direção comercial dessa emissora e apresentava o programa “Café da Manhã”.

Certo dia, foi para o Aeroporto Castro Pinto para fazer a cobertura da chegada do então Presidente da República, Ernesto Geisel, que foi para a Paraíba cumprir agenda de compromissos com o governo do estado. Ao finalizar a transmissão, se sentiu cansado, debruçou no volante do seu carro e começou a passar mal. A partir daí foi levado imediatamente para a Casa de Saúde São Vicente de Paula, de João Pessoa, aonde veio a falecer de aneurisma, em 25 de agosto de 1982. Seu sepultamento foi em Pombal onde teve um grande acompanhamento de pessoas de todas as classes sociais dessa cidade.

Eu tive um grande prazer em ter trabalhado com Zeilto Trajano, na Rádio Alto Piranhas, em 1971, e admirava muito o seu jeito de saber cativar as pessoas com sua simplicidade, seu caráter e dinamismo. Junto com Zeilto e demais colegas da emissora, viajei para São José de Piranhas (Jatobá), onde fomos jogar uma partida de futebol de salão, contra uma equipe local. Viajei ainda para Sousa juntamente com a equipe de esportes da Rádio Alto Piranhas, para fazer uma cobertura de um amistoso contra a Seleção de Sousa. Sou um profissional realizado, por ter trabalhado com radialistas de grande nível, a exemplo de Zeilto Trajano, Jota Gomes e Almair Furtado, colegas esses que já partiram para um outro mundo.

PEREIRA FILHO do Blog AC@B
Radialista
Brasília – DF

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Feira livre de Cajazeiras existente há mais de 150 anos



Uma das maiores atrações que Cajazeiras tinha, sempre foi a realização das feiras livres aos sábados. Sabemos que o centro delas era na Praça dos Carros, porque a praça é paralela a várias ruas que fazem extensão da feira. Ruas: Juvêncio Carneiro, Padre Manoel Mariano, Padre José Tomaz, Epifânio Sobreira e saída para a Presidente João Pessoa, entre outras.
 A primeira feira livre realizada em Cajazeiras foi no dia 7 de agosto de 1848. A feira oferecia uma infinidade de produtos artesanais oriundos dos municípios e região do Alto Piranhas. Como Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cantou em versos a Feira de Caruaru, na feira de Cajazeiras também tinha massa de mandioca, batata assada, ovo cru, banana, laranja e manga, batata doce, queijo e caju, cenoura, jabuticaba, guiné, galinha, pato e peru, bode, carneiro e porco, se duvidar disso até cururu.
Tinha cesto, balaio, corda, tamanco, gréia, boi tatu, fumo, tabaqueiro. Tinha tudo e chifre de boi zebu, caneco, arcoviteiro, peneira, boi, mel de uruçu, carça de arvorada, qué pra matuto não andar nu. Tinha rede, baleeira, móde menino caçar nhandu, maxixe, cebola verde, tomate, coentro, coco e chuchu, armoço feito na hora, pirão mexido que nem angu, mobília de tamborete, feita de tronco de mulungu. Tinha louça, ferro véio, sorvete de raspa que faz jaú, garapa gelada, caldo de cana, pão doce, rapadura...
Enfim, tinha violeiros falando sobre a vida sofrida do sertanejo na linguagem de cordel, emboladores de côco num ritmo de desafios para o parceiro com temas diversos. No vai e vem das pessoas fazendo compras, olhando os produtos, outras passeando, tudo isso era um momento de felicidade para os feirantes, para os compradores e para todos que se dirigiam à feira.
Quando eu morava em Cajazeiras, eu gostava de assistir as mirabolantes enganações de Bigodim, que ficava na Rua da Tamarina, em frente a Casa Norte (José Adelgides), onde ele colocava dinheiro, isso mesmo, dinheiro, enrolado em balinhas de chupar, passando papel de embrulho em cima da balinha e colava no meio de centenas de balinhas com notas de pequeno valor, dentro de um tablado quadrado tamanho de uma mesa. Ele colocava uma ou duas notas de alto valor e mostrava para os espectadores as notas sendo enroladas e jogava no meio das demais. Conclusão: o espectador pagava, digamos em valor de hoje, um real para ver se pegava cem reais e se pegasse, podia levar pra casa. Nunca ví ninguém pegar a balinha onde tava as notas de alto valor. Percebia-se que a maioria dos espectadores eram pessoas simples (pobres), que ficavam na certeza que sairia dalí com uma boa grana. Ô bigodim sabido!
Uma outra atração, era seu Antônio (um velhinho de seus 90 anos de idade aproximadamente), com um microfone sendo apoiado no mini pedestal em volta do pescoço, onde ele lia folhetos de Cordel. Era parecido com o microfone que Silvio Santos usou por muito tempo nos seus shows de calouros do SBT. Ele, como era banguelo, muitas vezes nem sabia o que estava lendo, porque cortava as palavras.
Na Praça do Espinho, os sitiantes (matutos) iam para a feira à cavalo e amarravam os animais embaixo dos pés de castanholas em frente ao Grupo Dom Moisés Coelho. As ruas onde se realizavam as feiras da cidade tinham as budegas, os armazéns, mercadinhos e cerealistas, que depois se transformaram em supermercados.
Me lembro das cerealistas de seu João Moreira, de Luiz Gonzaga, de João Batista, de Edilson Figueiredo, entre outros. O Armazém Rio Piranhas de seu Arcanjo era o local preferido de compras da minha mãe (dona BIA). Minha mãe me chamava e dizia: “vai lá no seu Arcanjo e compra isso, compra aquilo e fala pra ele anotar no caderno, que no final do mês eu vou pagar”.
As budegas eram as de seu Antônio Mãozinha, de Zecão, de seu Juvenal, de Jaime, de Quinco na Rua Dr. Coelho, de seu Mané na esquina da Rua Pedro Américo em frente ao Círculo Operário, de seu Vicente em frente ao Cine Pax, onde em todas elas os matutos iam tomar suas cachaças (pitú e caragueijo), rabo de galo, conhaque... E daí, depois das talagadas, davam as cusparadas no pé do balcão com o boró (cigarro de palha) no canto da boca. Todo pé de balcão de budega tinha um cheiro forte de cachaça, cuspe e cigarro. Écaaa!!!
Eu gostava mesmo era de tomar caldo-de-cana com pão doce na garapeira de Zé Alves, no Mercado. Um detalhe: as abelhas ficavam voando por cima dos pães doce e eu ficava só olhando, e, quando uma pousava no pão, eu falava pra Zé Alves: “eu quero esse pão com abelha”. Hum!!!! era gostoso!
Lá em casa eu era a pessoa incumbida de ir ao açougue e comprar carne. Eu chegava na tarimba de seu Zé Palmeira, no Açougue Municipal, e pedia pra pesar 800 gramas de carne, 800 gramas de toicim, 800 gramas de carne de porco, 800 gramas de banha de porco. Chegando em casa, minha mãe me perguntava: “tudo isso aqui tem um quilo, cada?”, e eu respondia, que sim! Como não tinha balança em casa, ela não me perguntava mais nada. O troco das 800 gramas, que sobrava de cada produto solicitado, eu escondia para assistir cinema e chupar picolé da Sorveteria de seu Walmor. Depois que falei tudo isso pra ela quando chegamos em Brasília, ela me disse: “tu me deve muito dinheiro, seu cabra safado!”
A vida é assim mesmo, cada qual com seu cada qual.
Blog AC2B
Pereira Filho (Mininim)
Brasília DF.