quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Feira livre de Cajazeiras existente há mais de 150 anos



Uma das maiores atrações que Cajazeiras tinha, sempre foi a realização das feiras livres aos sábados. Sabemos que o centro delas era na Praça dos Carros, porque a praça é paralela a várias ruas que fazem extensão da feira. Ruas: Juvêncio Carneiro, Padre Manoel Mariano, Padre José Tomaz, Epifânio Sobreira e saída para a Presidente João Pessoa, entre outras.
 A primeira feira livre realizada em Cajazeiras foi no dia 7 de agosto de 1848. A feira oferecia uma infinidade de produtos artesanais oriundos dos municípios e região do Alto Piranhas. Como Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cantou em versos a Feira de Caruaru, na feira de Cajazeiras também tinha massa de mandioca, batata assada, ovo cru, banana, laranja e manga, batata doce, queijo e caju, cenoura, jabuticaba, guiné, galinha, pato e peru, bode, carneiro e porco, se duvidar disso até cururu.
Tinha cesto, balaio, corda, tamanco, gréia, boi tatu, fumo, tabaqueiro. Tinha tudo e chifre de boi zebu, caneco, arcoviteiro, peneira, boi, mel de uruçu, carça de arvorada, qué pra matuto não andar nu. Tinha rede, baleeira, móde menino caçar nhandu, maxixe, cebola verde, tomate, coentro, coco e chuchu, armoço feito na hora, pirão mexido que nem angu, mobília de tamborete, feita de tronco de mulungu. Tinha louça, ferro véio, sorvete de raspa que faz jaú, garapa gelada, caldo de cana, pão doce, rapadura...
Enfim, tinha violeiros falando sobre a vida sofrida do sertanejo na linguagem de cordel, emboladores de côco num ritmo de desafios para o parceiro com temas diversos. No vai e vem das pessoas fazendo compras, olhando os produtos, outras passeando, tudo isso era um momento de felicidade para os feirantes, para os compradores e para todos que se dirigiam à feira.
Quando eu morava em Cajazeiras, eu gostava de assistir as mirabolantes enganações de Bigodim, que ficava na Rua da Tamarina, em frente a Casa Norte (José Adelgides), onde ele colocava dinheiro, isso mesmo, dinheiro, enrolado em balinhas de chupar, passando papel de embrulho em cima da balinha e colava no meio de centenas de balinhas com notas de pequeno valor, dentro de um tablado quadrado tamanho de uma mesa. Ele colocava uma ou duas notas de alto valor e mostrava para os espectadores as notas sendo enroladas e jogava no meio das demais. Conclusão: o espectador pagava, digamos em valor de hoje, um real para ver se pegava cem reais e se pegasse, podia levar pra casa. Nunca ví ninguém pegar a balinha onde tava as notas de alto valor. Percebia-se que a maioria dos espectadores eram pessoas simples (pobres), que ficavam na certeza que sairia dalí com uma boa grana. Ô bigodim sabido!
Uma outra atração, era seu Antônio (um velhinho de seus 90 anos de idade aproximadamente), com um microfone sendo apoiado no mini pedestal em volta do pescoço, onde ele lia folhetos de Cordel. Era parecido com o microfone que Silvio Santos usou por muito tempo nos seus shows de calouros do SBT. Ele, como era banguelo, muitas vezes nem sabia o que estava lendo, porque cortava as palavras.
Na Praça do Espinho, os sitiantes (matutos) iam para a feira à cavalo e amarravam os animais embaixo dos pés de castanholas em frente ao Grupo Dom Moisés Coelho. As ruas onde se realizavam as feiras da cidade tinham as budegas, os armazéns, mercadinhos e cerealistas, que depois se transformaram em supermercados.
Me lembro das cerealistas de seu João Moreira, de Luiz Gonzaga, de João Batista, de Edilson Figueiredo, entre outros. O Armazém Rio Piranhas de seu Arcanjo era o local preferido de compras da minha mãe (dona BIA). Minha mãe me chamava e dizia: “vai lá no seu Arcanjo e compra isso, compra aquilo e fala pra ele anotar no caderno, que no final do mês eu vou pagar”.
As budegas eram as de seu Antônio Mãozinha, de Zecão, de seu Juvenal, de Jaime, de Quinco na Rua Dr. Coelho, de seu Mané na esquina da Rua Pedro Américo em frente ao Círculo Operário, de seu Vicente em frente ao Cine Pax, onde em todas elas os matutos iam tomar suas cachaças (pitú e caragueijo), rabo de galo, conhaque... E daí, depois das talagadas, davam as cusparadas no pé do balcão com o boró (cigarro de palha) no canto da boca. Todo pé de balcão de budega tinha um cheiro forte de cachaça, cuspe e cigarro. Écaaa!!!
Eu gostava mesmo era de tomar caldo-de-cana com pão doce na garapeira de Zé Alves, no Mercado. Um detalhe: as abelhas ficavam voando por cima dos pães doce e eu ficava só olhando, e, quando uma pousava no pão, eu falava pra Zé Alves: “eu quero esse pão com abelha”. Hum!!!! era gostoso!
Lá em casa eu era a pessoa incumbida de ir ao açougue e comprar carne. Eu chegava na tarimba de seu Zé Palmeira, no Açougue Municipal, e pedia pra pesar 800 gramas de carne, 800 gramas de toicim, 800 gramas de carne de porco, 800 gramas de banha de porco. Chegando em casa, minha mãe me perguntava: “tudo isso aqui tem um quilo, cada?”, e eu respondia, que sim! Como não tinha balança em casa, ela não me perguntava mais nada. O troco das 800 gramas, que sobrava de cada produto solicitado, eu escondia para assistir cinema e chupar picolé da Sorveteria de seu Walmor. Depois que falei tudo isso pra ela quando chegamos em Brasília, ela me disse: “tu me deve muito dinheiro, seu cabra safado!”
A vida é assim mesmo, cada qual com seu cada qual.
Blog AC2B
Pereira Filho (Mininim)
Brasília DF.