domingo, 31 de julho de 2016

Quem eram esses Garotos de Ouro?



Quem eram esses Garotos de Ouro? De onde vieram? De um mundo desconhecido? Da terra? Ou das alturas, de onde não eram vis­tos? Nada disso!
Eles eram do nosso meio, das nossas glebas sertanejas, de lu­garejos pobres. A diferença estava na vontade de vencer. Na vocação sacerdotal.
A faixa etária era mais ou menos a mesma. Alguns já vinham com experiência do Pré-Seminário de Patos. A maioria estava cruzando as portas de um internato pela primeira vez. Des- confiados, trêmulos, en­cabulados, ti- midez à flor da pele, esperando uma mão amiga, para não perder vocação logo no primeiro dia. 
À primeira vista, um local completamente desconhecido, longe da cidade, dava a impressão de verdadeiro esconderijo.
Primeira noite: saudade "matadeira”, choro na cama, olhares di­ferentes, pouca amizade, e o sono sem convencer. Os pré-seminaristas vindos de Patos, cabeça feita, ditando normas, dizendo aos novatos que tivessem cuidado com os experientes, prestigiados pela cúpula do Seminário.
Logo nos primeiros dias, os apelidos começaram a surgir. Era uma dor danada; não havia como denunciar o fato à mamãe ou ao pa­pai, eles estavam longe. No dia seguinte, as primeiras provas escritas, com fiscalização rigorosa pelos padres e professores de cara fechada.
As orações na Capela começavam a alegrar os garotos. Refei­ções de boa qualidade, em silêncio absoluto, até que o Padre Reitor des­se o sinal. As orações, antes e depois das refeições, davam a mostragem (sic) do que seria a preparação para os caminhos sacerdotais.
As primeiras confissões, em filas intermináveis, a penitência di­ante da Virgem da Assunção, os cânticos ensaiados e dirigidos pelo Pa­dre Antônio Lisboa que sabia tudo de música e mais alguma coisa. As grandes mãos espalmadas do maestro, bem à frente dos alunos, indi­cavam como seria o trabalho no ensinamento dos primeiros acordes na velha “Serafina”. Uma coisa confortava a todos: a paciência do Padre Lisboa, corrigindo tudo com a excelência das boas maneiras. Identifica­va de longe uma voz desafinada. Chamava e corrigia. Se não conse­guisse melhorar a voz do jovem aprendiz de cantor sacro, imediatamen­te o excluía da sua relação de coralistas (sic). A expulsão era uma dor fina e aguda. A gozação dos colegas era o que mais doía. No final, todos fo­ram vitoriosos. Cinquenta anos depois, os currículos comprovam o fruto da perseverança.
As paróquias se dividiam, normalmente, dentro do Seminário. Os seminaristas de cada cidade se uniam; isso significava uma força maior para melhorar o astral nos primeiros dias. Não demorou muito e os vigários começaram a chegar para as visitas aos seus recomenda­dos. Ouviam queixas, davam conselhos e, na despedida, as lembran­ças para os familiares.
Inegavelmente, cada seminarista representava o orgulho de sua cidade, do seu distrito, do seu sítio. Os familiares que lá ficavam es­banjavam confiança e alegria. Nas férias, eles já se comportavam como verdadeiros ministros de Deus, rezando nas casas, capelas, matriz das paróquias; ajudando nas missas, batizados, casamentos; participando ativamente das santas missões, muito comuns naqueles tempos.
ESPORTE
O esporte foi incentivado peia direção do Seminário. Material esportivo não faltava. Futebol de campo, voleibol, espiribol faziam o maior entrelaçamento entre os seminaristas.
Ninguém podia se sentir pequeno demais, tinha que enfrentar os mais experientes, de igual para igual, pois quem quer ser líder no futu­ro tem que ser forte no começo. Quem pensar em conquistar medalha de bronze não passa de comenda de flandre.
Um dos momentos marcantes para todos os que passaram pelo Seminário foi a construção do campo de futebol, localizado ao lado direito da parte onde fica o refeitório, já perto do açude. A maioria gosta­va de jogar e abraçou a ideia de ter o seu próprio campinho. Os semina­ristas enfrentaram o trabalho na chibanca, picareta, enxada e, em poucos dias, estava lá, prontinho, o campo para os treinos e jogos, de acordo com a programação da Reitoria.

ORDENS DA REITORIA
As ordens da Reitoria eram fortes. A obediência tinha que ser cem por cento. Quem desobedecesse receberia o castigo merecido; se continuasse, podia até ser expulso. Para ser Padre, era mister ganhar medalha de ouro.
Logo nas férias, os garotos davam o recado para que vieram. Os vigários paroquiais se encarregavam de fiscalizar o comportamento dos seus seminaristas. Dançar e namorar estavam fora do comporta­mento religioso de cada um. A visita aos vigários, participação nas ativi­dades religiosas da Paróquia ou Capela eram obrigatórias. No final do período de férias, todos apanhavam o primeiro carro ou trem, ansiosos pela volta, na certeza de que, na Colina do Assunção, estava o caminho da vitória.
Os vigários de cada Paróquia encaminhavam, no final do reces­so escolar, um boletim informando toda a participação do seminarista na Igreja e, especialmente, o seu comportamento diante dos paroquianos e do seu vigário.
O aprendizado escolar era importante, mas o cumprimento rigo­roso das normas disciplinares daquela Casa de Formação era obrigató­rio, como prova de resistência na caminhada para o futuro.
O Monsenhor Luiz Gualberto, primeiro Reitor, seguia o cami­nhar de todos os seus alunos. Ensinava, orientava, castigava, cuidava da saúde, alimentava, celebrava, abria as portas para a felicidade futu­ra.
A batina preta era a fortaleza dos seus comandados. Ele impu­nha ordem e respeito. Recebia os pais dos alunos com muita fineza e educação. Tratava a todos dentro da mesma igualdade. Fiscalizava as cartas enviadas aos seminaristas e examinava as merendas que os fa­miliares encaminhavam para o Seminário. Lá não se estudava somente letras e aritmética. Era um estudo completo: religião, higiene, educação alimentar, civilidade, companheirismo, a maneira de vestir, o comporta­mento em sala de aula e a forma de viverem comunidade.

A FESTA DA PADROEIRA
A festa da Padroeira, Nossa Senhora da Assunção, era celebra­da com pompas. O dia 15 de agosto, feriado especial, festeja-se com in­tensa programação: missa às dez horas da manhã, como preparação para as grandes solenidades, merenda, almoço e jantar reforçados. Ma­dre Rosa, coordenadora da cozinha, abria a mão nesse dia, do qual mui­tos convidados especiais participavam.

O APOIO DAS FREIRAS
Como falar do Seminário sem des­tacara Madre Rosa e a Irmã Isabel?
A primeira, rígida demais; a segun­da, uma doçura em pessoa, no trato com to­dos. Sem elas, o sucesso não seria total.
Hoje, já velhinhas, ainda relembram os idos de 1955.
Madre Rosa foi escolhida para uma função que exigia disciplina, uma espécie de Ministra da Economia Alimentar. Nem sempre estava disponível para o diálogo com os seminaristas e, vez por outra, era dominada pelo sentimento do mau humor.
Irmã Isabel, essa era diferente. Tra­tava a todos com carinho. Conversei demoradamente com ela, no Carmelo. Muito fe­liz, falou da construção, da felicidade no velho Seminário. Falou da sua dedicação aos garotos: tratamento dentário, doenças de pequeno por­te, momentos de dores e de saudades dos seus lares, das terras de ori­gem.

VITÓRIAS E LAMENTAÇÕES
A prova de que os ensinamentos do Seminário foram de grande valia está na vida de cada um na atualidade: médicos, advogados, pa­dres, engenheiros, empresários, pastores evangélicos, jornalistas, ban­cários, políticos, sucesso em qualquer profissão. Onde quer que se en­contrem, olham, através do tempo, para o Seminário, a fim de agrade­cer a qualidade de vida que conquistaram.
A tristeza fica por conta dos que já morreram: não podem mais participar dos momentos felizes e vitoriosos. Companheiros de luta, mui­to fizeram por aquela Casa de Formação e se destacaram nas suas ter­ras de origem, como: Paulo Correia da Silva, José Félix, Jorge Delfino de Lima, Maurício Pereira Leite, Odilon Guedes Feitosa, Paulo Targino da Cruz, Jesenê Garcia dos Santos, Francisco Noronha Vieira, Francis­co de Assis Costa, José Marques Dantas, José Carlos Monteiro, Mário Saraiva de Andrade, Valdemar Pedro de Oliveira, Frutuoso Alexandre.
A passagem pelo Seminário marcou as nossas vidas, apesar da austeridade disciplinar. Em compensação, o nível de aprendizado era muito alto. Todo seminarista detinha uma vontade quase inquebrantável para se tornar vencedor. Não é por acaso que todos ainda rememo­ram, com grande entusiasmo, os fatos que marcaram sua experiência naquela Casa.
O Seminário não era só um local de preparação ao sacerdócio. Era, acima de tudo, um espaço para construção de bons e novos cami­nhos. Por conta dessa abrangência no ensino, na educação e na obe­diência, a maioria esmagadora dos seminaristas venceu galhardamen­te em todas as atividades da vida científica, social, política e cultural e nas profissões que escolheram.
Além da rigidez disciplinar, a vida no Seminário era feita de mo­mentos de descontração, lazeres prazerosos, divertimentos e passei­os.

APELIDOS
Cada seminarista tinha um apelido, de acordo com a sua postu­ra, o seu jeito de viver, de ser, de andar, de falar. Os apelidos eram bati­zados pelos mais “espirituosos" da Casa. Ai de quem reagisse contra o cognome. Os mais destacados eram: Prelhá, Mané Palheita, Costinha, Joaquim Queixinho, Chorão, Ovelha, Padim Abdon, Carretel, Pontaria, Mala Velha, Ferrugem, Chupeta, Burro Preto, Rato de Igreja, Beato, Boujeste, Caboré, Raposa, O Cego, Bombeiro, Boca Mole, Fonfon, Ima­gem de Pau, Timbú, Leirinha e tantos e tantos outros.

O PICOLÉ DE FEIJÃO
Um dia, durante o café da manhã, o seminarista Constantino Fer­nandes dos Santos, de Brejo do Cruz, muito gozador, abriu a geladeira instalada no refeitório e, antes que Madre Rosa se desse conta, pegou a “tirjina” de feijão, levantou-a nas mãos, mostrou aos companheiros gri­tando: “olha o picolé de feijão!”
Madre Rosa, diretora da cozinha, ficou uma “arara”! Comunicou o fato ao Padre Reitor que, de imediato, repreendeu Constantino, a tro­co da jura de jamais repetir a façanha de mau gosto.

O SINO
A convocação para as aulas, refeições, dormida, salão de estudos, missas, reuniões era feita pelo sino, colocado à entrada da Cape­la. Logo às primeiras batidas, todos se coloca­vam em seus devidos lugares, tomando o rumo pré-determinado para aquele horário. Ninguém questionava as batidas do instrumento. Todos sabiam o calendário, com a distribuição dos ho­rários para o cumprimento dos deveres.
O velho sino encontra-se ainda no mes­mo local de 1955. Ele é testemunho de tudo quanto aconteceu de ontem até hoje.

SERAFINA
Um dos objetos de grande valor do Semi­nário era a Serafina, órgão usado pejo Padre Antônio Lisboa, para tocar em todos os mo­mentos festivos da Casa: solenidades religio­sas, novenários da Padroeira, missas domini­cais. As mãos mágicas do Padre Lisboa toca­vam e encantavam os presentes no teclado da velha “Serafina”.
A Serafina ainda se encontra no Seminá­rio, numa sala especial, destinada aos objetos de valor histórico. Já foi de grande utilidade, mas hoje não é usada.
Conversei demoradamente com o Pe. Antônio Lisboa sobre a velha Serafina. Ele ainda lembra muito bem o ór­gão que teve uma presença muito forte em sua vida. Pe. Lisboa encontra-se, hoje, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Cam­pina Grande-PB.

O APITO DO MEDO
Famoso também ficou o apito. O Reitor usava-o no bolso da bati­na, como instrumento especial de avisos gerais. Os seminaristas temi­am aquele famoso apito; quando ele soava, começava a tremedeira, al­guma coisa inusitada acontecera.
Por ocasião de uma visita, neste ano de 2005, perguntei ao Mon­senhor Luiz Gualberto se ele ainda guardava o apito como lembrança da sua passagem como Reitor pelo Seminário. Ele respondeu que não. O apito levou fim.

A VISITA DOS VIGÁRIOS
Um dos grandes momentos era a visita de nossos vigários. Quando eles chegavam, o Reitor mandava avisar aos seminaristas da sua Paróquia, que tinham o direito de conversar o tempo que fosse necessário. Recebiam orientações espirituais do sacerdote, conselhos e notícias da família. Era um dia de alegria e até de gozações com os outros: “O meu Vigário veio me visitar, o teu não apareceu aqui!”.

DIVIDIR PARA DISCIPLINAR
Os seminaristas eram distribuídos em “três divisões”, por critério de idade: maiores, médios e menores. Se havia dois ou três irmãos no Seminário, em divisões diferentes, só podiam comunicar-se com ordem expressa do Reitor e em caso de necessidade, sob pena de serem puni­dos.
Quando os pais chegavam para uma visita, a conversa entre ir­mãos era natural; ficavam liberados para conversar à vontade; fora dis­so, nem cumprimentos.

OS PREFEITOS
No final de cada mês, o Reitor designava um prefeito para cada divisão. Assim era chamado aquele que, na confiança do Reitor, recebia a incumbência de colaborar para o bom funcionamento da disciplina nas três divisões. Os prefeitos eram instruídos pelo Reitor para mantê-lo informado sobre qualquer tipo de transtorno disciplinar.
Todos aguardavam com enorme expectativa as nomeações dos referidos prefeitos e outros auxiliares, como leitor, acólito. As indicações eram feitas por ocasião do jantar. A nomeação era sinônimo de prestígio junto ao Padre Reitor.
Quando o escolhido não correspondia às expectativas do Padre Mestre, nunca mais seria contemplado para função alguma.

MARTIROLÓGIO ROMANO
Todos os dias, por ocasião do almoço, um seminarista devida­mente designado pela Reitoria, fazia a leitura de um capítulo do livro “O Martirológio Romano”, narrando a vida dos santos sacrificados em defe­sa da fé cristã. Todos tínhamos de ouvir a leitura em silêncio, com a devi­da e respeitosa atenção.
Do púlpito, que ficava colocado numa das laterais do rèfeitório, para que todos tivessem a melhor visão do leitor, narrava-se o capitulo do dia. Quem ousasse conversar ou fazer “ouvido de mercador”, seria advertido pelo senhor Reitor, através de toques da campainha, que fica­va sobre a mesa dos padres.
Assim se mantinha a disciplina, razão maior da nossa formação.

ENCONTRO COM A FELICIDADE
A partir do primeiro dia em que iniciei esta pesquisa, à busca de antigos companheiros, passei a reviver o ano de 1955. Os caminhos se abriram para uma alegria constante. As dificuldades foram enormes. Imaginem encontrar 144 companheiros, espalhados por esse Brasil afo­ra, através de cartas, visitas e muitos telefonemas. Recorri à Telemar e recebi informações de vários ex-seminaristas com quem mantinha con­tato direto.
Muitos foram solícitos, atendendo com presteza e encaminhan­do os dados solicitados com brevidade. Outros não enviaram informa­ção alguma e até criticaram nossa iniciativa. À proporção que as dificul­dades aumentaram, passei a fazer reiterados telefonemas, na ânsia de encontrar, a qualquer custo, um companheiro onde quer que estivesse.
Momentos aconteceram em que quase abandonei a pesquisa. Ah! não vale a pena, dizia comigo mesmo. Mas a obstinação me fazia re­tomar o caminho desse longo trabalho.
Em uma determinada manhã, com a força gigantesca de quem nunca abandona a trincheira, alguém desligou o telefone em minha ca­ra. Esse gesto deselegante fez-me levantar o astral. Jurei que, a partir daquele instante, buscaria a todos e o fiz incansavelmente.

A MORTE DOS COLEGAS
Foi realmente uma longa caminhada! Conversando certo dia, por volta das onze horas da noite, com o companheiro Guy Reinaldo Barreto, de Catolé do Rocha, fui por ele informado de que o nosso ami­go Paulo Targino da Cruz morrera traído pelo velho coração.
Embalado à procura dos colegas, peguei o telefone e recorri à Telemar, que me informou o número de um velho amigo, em pleno su­cesso profissional depois da saída do Seminário. Liguei para a sua casa e fui atendido pela própria esposa. Narrei a razão pela qual estava ligan­do. Ela, com a voz trêmula, me disse: “parece que o senhor não sabe de nada”. Retorqui: que aconteceu? E ela: “Jesenê morreu”. Chocado, con­tinuamos a conversa e ela me deu detalhes sobre o trágico aconteci­mento: uma moto tirou-lhe a vida, nas ruas de João Pessoa.
De outra feita, liguei para a cidade de Patos, procurando José Marques Dantas. A empregada da casa me informou com voz triste: “ele faleceu há dois meses”. Outro choque emocional. Quase lhe dizia: “te­nha cuidado, que eu sofro do coração!”.
Quem pode esquecer “Prelhá”? Um garoto simples, humilde, nascido na zona rural do hoje município de Aparecida, na fazenda Aca­uã. Mesmo depois de ser expulso do Seminário, continuou fazendo a sua parte religiosa, organizando a catequese, pregando nas capelas, participando ativamente das atividades da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, em Sousa. A morte, porém, o ceifou muito jovem. O nos­so saudoso Jorge Delfino de Lima deixou muitas saudades. Não se tem notícia de alguém que tenha encontrado o Jorge com tristeza, cabisbai­xo ou reclamando da vida.
“Ovelha”, um dos mais humildes que o Seminário conheceu até hoje, veio da “Terra dos Padres”, Uiraúna, para tentar ser mais um mi­nistro de Deus. Era o Francisco Noronha Vieira, bom amigo, passou mui tas férias na minha residência, em Lagoa Redonda, município de Sou­sa. Perseguido por uma doença incurável, a morte o levou antes de com­pletar os sessenta anos de idade.

ESPIRITUOSOS E DESCONFIADOS
E Ascânio Abrantes de Carvalho, da cidade de Sousa, filho do Chefe da 12a Ciretran, Simão Afonso de Carvalho? Não deixava nin­guém em paz. Com um simples olhar, caricaturava um companheiro. Encontrava para todos um apelido adequado. Gozador irreverente, as­sim era o Ascânio, hoje um gordo bonachão.
No mês de março, numa noite chuvosa, consegui comunicar-me com o companheiro Valdecy Leite de Andrade, residente em Brasília. Conversamos demoradamente, expliquei-lhe que estava escrevendo um livro sobre os fundadores do Seminário. No dia seguinte, mandei-lhe uma carta e outra ao seu gerente, Edmilson Veras Diniz, também ex-companheiro nosso. Depois de algum tempo sem resposta, finalmente, no dia 29 de abril, por volta das onze e meia do dia, o telefone tocou no meu escritório. Atendi. Do outro lado da linha alguém pergunta: “de on­de fala? De Cajazeiras”, respondi. “É de um escritório de advocacia”? Sim! E de onde está falando? Ele disse: “de Brasília”. Aí conheci mais ou menos a indagação e disse: aqui fala Francisco Alves Cardoso. A voz so­ou novamente: “Agora tá certo! Eu estou ligando para saber se, na ver­dade, foi você que me ligou naquela noite, pois hoje em dia a gente não pode confiar muito, sem antes pesquisar. O Brasil está assim”.
Gostei do jeito de Valdecy! Afinal de contas são cinquenta anos de distância.

CENAS QUE NÂO SE APAGAM
A descida do dormitório, pela madrugada, em carreira “desenfileirada”, rumo à barragem, localizada por trás do Seminário. Ali, geral­mente, um número exagerado de urubus pousava de asas abertas, ao sol causticante, e não se espantavam nem mesmo com a chegada dos seminaristas. O banho era gostoso, apesar de muito cedo e a água mui­to fria.
Os craques do Seminário, participando das peladas no campinho de futebol por nós construído. Ozais afirmando ser o melhor do “association”; o Rolim, da cidade de Cajazeiras, dizia que era um atleta pa­ra qualquer equipe da região. Vanaldo, com classe e pouco futebol.
Como esquecer a “Malaria”? O local mais desorganizado do Se­minário, onde as malas eram colocadas de todo jeito, resto de merenda fedendo, papéis soltos por toda parte, e a eterna vigilância de todos, com relação ao que era guardado nas malas novas e bonitas, daqueles que tinham melhores condições financeiras; e as malas velhas desajei­tadas, dos mais pobres.
O recreio de todas as noites, após o jantar, em frente ao prédio do Seminário. Os grupos se formavam, geralmente por alunos de cada Paróquia. Discussões, planos para as férias, lamentações pelas sauda­des da família e os fuxicos inevitáveis. Tudo isso parava ao tocar do si­no, quando todos seguiam rapidamente para o salão de estudos.
As gozações com os acólitos que erravam algumas partes dos ri­tuais religiosos, quando estavam ajudando nas missas. Quem errava, passava o resto do dia sendo gozado pelos colegas. Todo final de sema­na, o Padre Reitor designava dois seminaristas que participavam das missas diárias.

O PRIMEIRO REITOR
O Monsenhor Luiz Gualberto de Andrade nasceu na cidade de Uiraúna, no dia 14 de outubro do ano de 1921. Filho do casal José Gualberto de Andrade e Francisca Romana de Andrade.
Foi ordenado sacerdote pelo bispo Dom Luís do Amaral Mousinho, na Matriz de Nossa Senhora da Guia, na cidade de Patos, no dia 04 de dezembro de 1949. Foi Vigário Coope-rador de Patos nos anos de 1950 e 1951. Vigário Cooperador de Itaporanga, de 1952 a 1954. Vigário Ecônomo da Paróquia de Santana dos Garrotes, de 1952 a 1955. Capelão do Colégio Padre Diniz, em Itaporanga, de 1952 a 1955. Pároco de Itaporanga, de 1954 a 1955. Primeiro Reitor do Semi­nário Nossa Senhora da Assunção, de 1955 a 1958. Consultor da Dio­cese de Cajazeiras, de 1955 a 1982. Vigário Ecônomo de São José de Piranhas, em 1956. Diretor do Ginásio Diocesano de Pombal, de 1959 a 1967. Fundador e Diretor do Instituto Profissional Monsenhor Valeriano, de Pombal, de 1960 a 1967. Diretor do Abrigo da Mãe Pobre de Pombal, de 1959 a 1967. Diretor Provedor do Hospital Maternidade “Sinhá Car­neiro”, de Pombal, de 1959 a 1967. Fundador e Diretor do Colégio Comercial de Pombal, de 1961 a 1967. Diretor do Liceu Paraibano, de João Pessoa, no ano de 1969. Primeiro Diretor da Faculdade de Filoso­fia, Ciências e Letras, de Cajazeiras, de 1969 a 1993. Vigário da Paró­quia de Nossa Senhora da Piedade de Cajazeiras, 1969 a 1976. Diretor do Colégio Diocesano Padre Rolim, de Cajazeiras, de 1972 a 1991. Fun­dador e Diretor do Curso Técnico em Enfermagem do Colégio Diocesa­no Padre Rolim Cajazeiras, de 1975 a 1979. Capelão do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, de Cajazeiras, de 1977 a 1992. Coordenador do Campus V da UFPB, Cajazeiras, nos anos de 1979 e 1980. Primeiro Diretor do Centro de Formação de Professores - Campus V da UFPB - Cajazeiras, em 1980. Vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Rosá­rio São João do Rio do Peixe, de 1980 a 1992. Vigário da Paróquia de Santa Helena, de 1980 a 1983. Diretor da 9a Região de Ensino de Caja­zeiras, nos anos de 1982 e 1983. Diretor do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, de Cajazeiras, de 1984 a 1990. Capelão do Instituto Monte Carmelo Cajazeiras, de 1992 até a data de hoje. Foi nomeado Cônego Penitenciário, pelo Bispo Diocesano de Cajazeiras, em 1995. Foi nome­ado Monsenhor por S.S. o Papa João Paulo II, no dia 14 de janeiro de 2002.

NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO PADROEIRA DO SEMINÁRIO
O Monsenhor Luiz Gualberto gosta de explicar porque a Virgem da Assunção foi escolhida como Matrona do Seminário
O Sr. Bispo Diocesano, Dom Mousinho, foi recebido .por Sua Santidade o Papa Pio XII, quando teve a oportunidade de pedir ao San­to Padre para benzer a pedra fundamental do Seminário e também o no­me da santa padroeira daquela Casa de Formação. Naquele ano, apro­ximava-se a definição do dogma de Nossa Senhora da Assunção, e o nosso querido Bispo Dom Luís do Amaral Mousinho, para unir-se cada vez mais ao Santo Padre, disse que escolheria como Padroeira o nome de Nossa Senhora da Assunção, cuja definição do dogma seria feita por Sua Santidade. Com a bênção do Seminário, feita lá em Roma, o Santo Padre benzeu também a pedra fundamental do querido Seminário”.

O QUE PENSA O CÔNEGO GUALBERTO SOBRE O SEU REITORADO
Sem dúvida nenhuma, não tenho palavras para dizer quais re­cordações eu tenho do Seminário. Mas, certamente, são literalmente incontáveis aqueles momentos felizes, aqueles dias e aqueles quatro anos abençoados em que tive a honra de dirigir, graças à bondade e à dedicação extrema de sua Exa. Revma., de saudosa memória, D. Zaca­rias Rolim de Moura. Foram quatro anos abençoadas e gratificantes, que Nosso Senhor concedeu na minha vida, de ter contato com a turma e ter tomado conta dos fundadores do Seminário, que não se ordena­ram tantos, mas ordenou-se algum número, mercê de Deus, a inteligên­cia, o talento e a dedicação de todos eles. Cresceram na sua vida inte­lectual, depois na sua vida profissional e também na sua vida familiar, dando às suas famílias um testemunho de fé, de amor a Deus, aos seus irmãos e irmãs, em seu cotidiano existencial e na luta que eles praticam na verdade, na justiça e no amor. Realmente, para mim, é um momento gratificante, vendo a comunidade repleta de alegria para celebrar a fes­ta do dia 15 de agosto, Cinqüentenário do Seminário Diocesano. Gra­ças a Deus, daquele tempo da fundação eu tenho a alegria de contar que todos esses ex-alunos, embora não tenham seguido a vocação sa­cerdotal, seguiram outros caminhos, outras vocações, nas quais eles estão realizando e realizaram proficuamente as suas atividades. A1a tur­ma de alunos fundadores, vale a pena uma revisão no calendário, pois vemos tantos deles que foram e são felizes na sua vida. Alegria, muita alegria. Saúdo esse meu querido ex-aluno, que não seguiu a vocação sacerdotal, deixando o Seminário, mas se formou em Direito e é um jor­nalista de grande categoria, o nosso querido Dr. Francisco Alves Cardoso”.
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O Monsenhor Gualberto fala com entusiasmo sobre o verdadei­ro papel de Dom Zacarias Rolim de Moura na construção do Seminário.

O fundador do Seminário foi, na verdade, Dom Mousinho, mas Dom Zacarias foi quem concluiu a obra, quem a inaugurou, e quem fez tudo pelo Seminário, mantendo os alunos, oferecendo-lhes o necessário. Eu sou testemunha daqueles quatro anos; ele jamais negou qual­quer favor a quem quer que fosse, tratando sempre de fazer o bem ao Seminário e aos seminaristas. Ele dizia continuamente o seguinte: “Nós não podemos viver sempre de bacia na mão”. Daí porque começou a construção de todas as casas que hoje fazem parte do patrimônio da nossa Diocese e que atingem um total de cinquenta e quatro moradias e alojamentos. Dom Zacarias realmente foi o criador, o fundador e fez tu­do para manter em dia o Seminário Diocesano. Nunca teve dívida com ninguém durante os quatro anos em que eu lá estive. O espanhol Frei Casa Nova, que às vezes se hospedava por lá, só para conversar co­nosco, disse certa vez: “eu tenho observado que o cardápio desses se­us alunos é muito bom, está realmente seguindo uma orientação espa­nhola e veja o seguinte, dizia ele: O Seminário é bom na comida, bom na disciplina, é esta a impressão que tenho e levo para minha pátria”.
A respeito da presença dos Padres Salesianos, o Cônego Gualberto oferece o seguinte testemunho. “Foi sobremodo importante, por­que eles, todas as semanas, infalivelmente, encaminhavam ao Semi­nário dois Padres Salesianos, que vinham prontamente para confessar os meninos. Naquele tempo, a gente se confessava semanalmente; até o próprio Reitor se confessava, graças a Deus. Na verdade, eles ajuda­ram muito, na formação espiritual dos nossos seminaristas. O Seminá­rio teve como Diretores Espirituais, primeiro monsenhor Abdon Perei­ra, o segundo foi o Cônego Américo Sérgio Maia e como terceiro Diretor Espiritual, o Padre Borges, jesuíta”.
O ex-Reitor passa uma mensagem de fé, otimismo, confiança e amor aos ex-seminaristas. “Para mim, é um momento de felicidade imensa e gratificante ter a oportunidade de fazer chegar através desse ex-seminarista, Dr. Francisco Alves Cardoso, aos ouvidos e aos cora­ções dos meus queridos ex-alunos do Seminário, que sempre eu tenho noticia, de que, se não chegaram ao sacerdócio ministerial, com certeza abraçaram o sacerdócio batismal, são homens de bem. D. Moisés Coelho, quando falava aos jovens, dizia que todos fossem homens de bem, em suas vidas. Eu tenho a alegria de saber que todos eles dão tes­temunho do Seminário, levando-o no seu cotidiano existencial, nas co­munidades onde estão realizando as suas atividades profissionais e feli­zes com seus adorados familiares.
Graças a Deus, meus queridos ex-alunos, vocês estão felizes, e muito mais feliz segue aquele humilde e pobre Reitor, que semeou no coração de vocês alguma semente que nasceu, floresceu e hoje está safrejando. Assim, estão fazendo realmente tudo de bom para a felicidade do Brasil. Já dizia Rui Barbosa que a pátria é a família amplificada. Então, meus irmãos, vocês são uma dessas famílias que contribuem ge­nerosamente para a grandeza do Brasil. Eu continuo a pedir a Deus, Nosso Senhor, todos os dias, três vezes, pelos meus ex-alunos, para que vocês continuem sempre fazendo o bem a todos e nunca o mal. Fa­çam o bem aos mais humildes, aos mais pobres e aos mais necessita­dos. Que Deus abençoe a todos vocês e cubra de graças e felicidades os seus familiares”.

REITOR DO SEMINÁRIO FALA DA FESTA DO CINQÜENTENÁRIO
O Padre Agripino Ferreira de Assis, atual Reitor do Seminário Nossa Senhora da Assunção, fala de emoções na realização das fes­tividades programadas para a co­memoração dos cinquenta anos de fundação do Seminário. Ele diz que as expectativas já começaram a sur­gir desde o ano passado e continu­am até o presente. “Estamos traba­lhando, divulgando e preparando a co-peregrinação com a imagem de Nossa Senhora da Assunção”.
O Reitor fala da diferença entre o Seminário de 1955 e o Semi­nário de hoje: “É claro que existe, na verdade, uma grande diferença do Seminário de 1955 para o dos di­as de hoje. São 50 anos de cami­nhada, mudança na Igreja, mudança na visão da formação, mudança na educação, mudança na família. Tudo isso tem o seu tempo, tem a sua história belíssima ao longo desse meio século de existência desta Casa de Formação”.
Indagado sobre quantos sacerdotes já foram ordenados pelo Se­minário, responde o Reitor: “Nós fizemos um levantamento recente e, conforme os dados, já se ordenaram mais de setenta sacerdotes, gra­ças a Deus”.
"Todos os seminaristas que por aqui passaram e ainda os que aqui estão atualmente, se de fato aproveitarem a vida de estudo, a espi­ritualidade, a vida comunitária, mesmo não sendo sacerdotes, são pro­fundamente agradecidos e são pessoas que trazem, até hoje, onde quer que estejam em sua missão, em sua profissão, os agradecimen­tos, e levam na bagagem boas recordações e a formação do caráter, da personalidade, das virtudes que aprenderam no Seminário. Nós tam­bém ficamos felizes com essas pessoas que passaram pelo Seminário e hoje são bem sucedidas na família, no trabalho e na profissão”.
O Padre Agripino fala também dos reitores que lhe antecede­ram: “Dom Zacarias Rolim de Moura assumiu a direção desta Casa du­rante vinte e sete anos, como Reitor. O primeiro, nós sabemos, foi o Monsenhor Luiz Gualberto de Andrade, a quem devemos muito como sacerdote maravilhoso, exemplar pela sua cultura, pela visão de Igreja, pela visão de mundo. Mons. Luiz Gualberto assumiu durante quatro anos, com muito amor, à causa da Igreja. Ele foi quem montou a Casa para receber os primeiros seminaristas. Imagine começar algo do zero, tendo que providenciar tudo. Foi ele a primeira coluna que até hoje con­tinua dando testemunho desse trabalho de profundo amor à Igreja. D. Zacarias marcou profundamente, porque primeiro deu seu zelo de pas­tor, de Bispo Diocesano e de amor à Igreja. Segundo o Código de Direito Canônico, o Bispo é o primeiro Reitor do Seminário. Mas Dom Zacarias transferiu essa responsabilidade ao Mons. Luiz Gualberto e ao Mons. Francisco de Assis Sitônio, de saudosa memória”.
“Quanto a mim, assumi a reitoria do Seminário em fevereiro de 1992, antes da minha ordenação presbiterial. Eu era diácono, portanto assumi de fato e Dom Matias Patrício de Macêdo assumiu de direito, co­mo Bispo da Diocese. Eu estou aqui até hoje, graças a Deus, muito feliz por colaborar com a Diocese, com a Igreja do Nordeste, nesse trabalho tão bonito que é a formação sacerdotal, trabalhando e aprendendo tam­bém com esses jovens que vêm de várias famílias desse Nordeste bra­sileiro”.
Por fim, o Reitor, Padre Agripino, fez um agradecimento e uma conclamação pelas vocações sacerdotais: “Nós estamos profunda­mente agradecidos por essa abertura e pedimos que todas as pessoas rezem pelas vocações sacerdotais, para que o cinquentenário do nosso Seminário possa ser, antes de tudo, um verdadeiro despertar das voca­ções, um verdadeiro florescimento no coração daqueles jovens da nos­sa Diocese, que caminham e às vezes têm dificuldades de descobrir a sua vocação, para que estão sendo chamados. Que o Espírito de Deus ilumine cada um daqueles que passaram por aqui, lhes concedendo muita saúde, muitas alegrias. Muito obrigado e que Deus abençoe a todos”.

O EXEMPLO DE PADRE DAGMAR
Infelizmente, estamos vivendo um tempo muito diferente de 1955. Hoje o ódio predomina. Crimes hediondos, assaltos à mão arma­da, mortes encomendadas. Vidas tombadas no Iraque e Afeganistão, culpa única e exclusiva da maldade dos homens. O amor desapareceu, o ódio entrou no seu lugar.
A nossa legislação penal é muito complacente com a criminali­dade. Se os bandidos não forem duramente castigados, certamente es­te País vai virar um “caldeirão do inferno” e os homens de bem perderão o prazer de viver.
Mas ainda existem os exemplos que valem a pena ser enalteci­dos. Na cidade de Sousa, o Padre Dagmar Nobre de Almeida, ex-seminarista fundador do Assunção, atual Vigário da Paróquia do Bom Jesus Eucarístico Aparecido, criou o Abrigo do Idoso “Jesus, Maria e José”, com sede no Bairro do Angelim, onde mantém oito velhinhos in­ternados e dez em regime de externato, com um acompanhamento cem por cento humano, numa demonstração de que a solidariedade é o me­lhor caminho para desbancar o ódio.
O Padre Dagmar enfrenta muitas dificuldades, mas não desiste. Mantém o abrigo com as suas próprias forças, através de campanhas na comunidade e a fé religiosa que a cada dia aumenta as suas energi­as, para continuar a luta em favor do bem.
Quero, aqui e agora, lançar uma mensagem aos homens de boa vontade deste imenso Brasil, para que larguem as armas e abracem a paz; abandonem o ódio e introduzam o amor; condenem a perseguição e adotem a solidariedade.

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O AMIGO DA HORA DIFÍCIL
Deixei o Seminário, mas continuei ligado aos movimentos religi­osos da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, em Sousa. Em 1962, fiz amizade com o Cônego João Cartaxo Rolim, Vigário dos Re­médios. Estava em situação muito difícil, morando na zona rural e trabaIhando na agricultura. O Cônego João Cartaxo convidou-me para pre­sidir o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que havia sido fundado em Sousa, com o apoio da sua Paró­quia. Aceitei a tarefa e iniciei os tra­balhos, que não foram nada fáceis.
Recebi muita força do vigário para a organização do sindicalismo.
Deixei a zona rural e vim morar na ci­dade. O Cônego entregou-me uma casa da Paróquia, onde morei du­rante vinte anos, gratuitamente. Con­tratou a minha mãe, Maria Alves Pe­reira, para ser zeladora da Igreja.
Com esse apoio, tive condições de recomeçar os estudos na Escola Co­mercial de Sousa.
No dia 31 de março de 1964, fui preso em João Pessoa, pelos mi­litares, sob a acusação de que estava incentivando os movimentos co­munistas na região de Sousa. Naqueles tempos, o sindicalismo rural era tido como uma luta subversiva.
Recebi apoio integral do amigo Cônego João Cartaxo. A luta ruralista continuou, mesmo sob ameaças da Revolução.
Estou fazendo justiça a esse grande sacerdote, a quem consi­dero o meu benfeitor de todos os tempos.
Testemunhei a sua luta em favor das vocações sacerdotais, na­quela Paróquia, inclusive mandando alunos para o Seminário Nossa Se­nhora da Assunção, todos os anos.
O seu apoio, naquele momento tão difícil, foi de fundamental im­portância para a minha vida. Sem a sua ajuda, talvez ainda estivesse tra­balhando na zona rural. A minha vitória, devo em grande parte, ao Cône­go João Cartaxo, um homem sério, honesto cumpridor dos seus deveres, sacerdote íntegro, corajoso e leal.

O FINAL DAS NOITES
Diariamente, às dezenove horas, era iniciado o período de estu­do noturno, no salão que ficava na Capela da Assunção. O estudo se prolongava até às vinte e uma horas, quando o padre Reitor chegava para as orações da noite. No final das orações, todas as três divisões seguiam em fila rumo aos dois dormitórios. O dormitório número um era exclusivo para os maiores, enquanto que o dormitório número dois era dividido para os médios e menores.
Antes de subirem os degraus dos dormitórios, todos cantavam juntos o hino de despedida do dia: “LENTA E CALMA SOBRE ATERRA, DESCE A NOITE E FOGE A LUZ; QUERO AGORA DESPEDIR-ME, BOA N.OITE, MEU JESUS

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