sexta-feira, 2 de maio de 2014

OS GRITOS NO CEMITÉRIO VELHO DE CAJAZEIRAS*

No início do século passado, por volta da década de 30 e de 40, existia ao lado do Cemitério Coração de Maria, o conhecido “Cemitério Velho”, uma rua onde funcionavam os bordéis da cidade. Ironicamente, o nome popular que essa rua ganhou foi o de “Rua dos Cabarés”. Era um lugar onde alguns homens da sociedade cajazeirense e região da época se refugiavam, em busca de aventuras românticas fora do cotidiano do matrimônio.
  O fato é que, em determinada ocasião, barulhos oriundos do interior do cemitério começavam a in- comodar a clientela que visitava aquele local. Barulhos estes que se sucederam por mais de uma semana seguida, sempre com o som de lamentos. Convoquem a “volante”! Sem esperar que se tratasse a primeira vista de coisa do outro mundo, os habitantes do lugar exigiram que a força policial da época, desse uma batida rigorosa naquele lugar, e que surpreendesse os prováveis engraçadinhos que estavam proporcionando aquele tipo de travessura.
Pois bem, o fato é que, cerca de dez “cabras” municiados de rifles, tochas, candeeiros e lampiões, partiram para o interior do famoso local de sepulturas. Nessa época, o cemitério já contava com bastante “catacumbas” construídas, e era necessária uma apuração minuciosa. Foi o que foi feito, mas o mais surpreendente é que, nenhum meliante foi encontrado dentro do referido local.
Pensando que os autores dos gritos tinham foragido quando viram a patrulha nos arredores do cemitério, cujas ruas ainda não eram calçadas e a lama tomava de conta até a canela nos períodos invernosos, os soldados saíram do lugar relatando que nada haviam encontrado. Pois bem, foi só a volante deixar o lugar e os gritos voltaram novamente. Intrigados, os clientes e as raparigas chamaram novamente a patrulha, e para que se certificassem que os autores da brincadeira sem graça fossem encontrados e presos, outros homens decidiram entrar junto da patrulha ao velho cemitério.
           Resultado, mais uma vez, ninguém foi encontrado. A solução foi deixar alguns policiais tomando de conta do lugar, escondidos, só esperando que alguém desse uma de gaiato e fosse apanhado com a “boca na botija”.
  Como os barulhos cessaram, os policiais resolveram que seria mais interessante es- perar um outro dia para surpreenderem o autor ou os autores de tamanho rebuliço. O fato é que, no dia se-
guinte, os barulhos em forma de gemidos e lamentos voltaram a soar de dentro do velho fossário, o que intrigava ainda mais as pessoas que frequentavam a região ao lado. Como a iluminação era precária, resolveram fazer várias fogueiras em volta e sitiar aquele campo santo, pois muitos indagavam que, se ficassem ali, com certeza veriam alguém fugir de dentro do cemitério.
Pois bem, o cerco foi feito, várias fogueiras foram acesas, alguns patrulheiros e civis, armados com fuzis, estacas, foices e peixeiras, ficaram do lado de fora, esperando pegar os “cometedores” de tamanho sacrilégio. Os gritos prosseguiram, mesmo com aquela inquietação inteira em volta.
          O dia amanheceu e ninguém saiu de dentro do cemitério. Intrigados, parte dos sitiadores invadiu o lugar, vasculharam tumba por tumba, verificando se havia alguma aberta com alguém escondido lá dentro, até a capela existente no interior do cemitério foi revirada, mas como das outras vezes, nada nem ninguém foi encontrado. Não tinha outra resposta: O CEMITÉRIO ESTAVA MAL ASSOMBRADO.   Agora não era mais necessária a “força humana”, e sim a “espiritual”. O Padre! O pároco foi convocado para exorcizar o lugar. Relutante, o vigário afirmou que se ali havia energias negativas, era devido existir ao lado do principal cemitério, um grupo de estabelecimentos que serviam como casa de prostituição.
   Uma missa foi promovida no lugar para ver se os barulhos de lamento cessavam. Foi em vão. Na mesma noite, os barulhos, dessa vez não só mais de gemidos, mas como de pisadas forte na terra foram ouvidos. Assustados, os moradores das redondezas deixaram suas casas e partiram a acordar o padre, já altas horas da noite, e exigiam que este os acompanhasse para encontrar a alma penada e fazê-la descansar em paz. Nada foi encontrado. Convoquem o Bispo! Foi chamado o Bispo direto da Diocese, que juntamente com uma comitiva de padres chegou até o recinto mal assombrado. Uma cerimônia foi realizada para fazer com que a alma relutante pudesse encontrar o caminho da paz.
Não tinha jeito. Aquela provável alma não queria abandonar o seu posto. Fechem os bordéis! A mensagem a princípio do pároco de ali só estar mal assombrado devido à presença de casas de prostituição soou como única solução viável para o Sr. Bispo.
Cerrada as portas dos cabarés, não é que os gritos e gemidos pararam! Foi uma vitória provisória da Diocese. Provisória, porque, certa ocasião, uma das quengas revoltadas com a decisão, pôs fim a sua própria vida. Ela foi enterrada no velho lar dos mortos, bem ao lado da ladeira colossal que hoje tem o nome de “Ladeira do Cemitério”.
Pois bem, depois do tresloucado gesto, os gemidos e barulhos retornaram. Benzam a cova! Benzida a cova, os barulhos temporariamente emudeceram.
     Certa noite, um popular vinha voltando da casa de sua noiva, que ficava a algumas léguas dos arredores da cidade. De lampião na mão e ignorando que iria passar ao lado do cemitério e que era exatamente meia-noite, o cidadão prosseguia tranquilamente, até que de repente, uma pessoa usando um vestido branco pulou o muro do cemitério e saiu correndo em direção ao Grêmio Artístico. O rapaz pensou: “Só pode ser o autor dos gritos”. Não contou outra, partiu atrás da suposta pessoa. Mas, por mais que ele corresse, não conseguia alcançar o dito cujo.
    Ao chegar à calçada do Grêmio, a pessoa parou e ficou estacionada na esquina. O homem se aproximou e percebeu que um cheiro forte de carniça tomava conta do local.
   Ao deparar com a pessoa parada na esquina, o cidadão perguntou: “Aconteceu alguma coisa?” nada lhe foi respondido. Ele então ino- centemente tocou no ombro da criatura, e o que se viu em seguida foi uma coisa tão medonha, que o coitado correu por onde tinha vindo e acabou voltando para a casa da noiva, a qual junto dos parentes ouviu o relato do pobre infeliz, que descreveu a criatura com a pele largando do corpo, e o que aparentava ser um vestido branco, na verdade era a mortalha.
 Outras pessoas viram a tal assombração por várias vezes. Fosse dançando em cima do telhado da capela, fosse dando voltas nos arredores do cemitério. Alguns taxavam que seria a quenga morta que tinha voltado para reclamar o fechamento dos cabarés. Nisso, os restos mortais dela foram exumados, e enterrados em outro lugar. Desde esse dia, as aparições, os gritos e os lamentos nunca mais foram vistos ou ouvidos naquele lugar.



Graduando em História pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, campus de Cajazeiras (PB). Nas horas vagas me dedico a escrever crônicas, textos, poesias, artigos, redações, livros, fazer desenhos, pinturas e fotografias de pessoas típicas, Patrimônios Históricos e paisagens. Dedico este blog a todos vocês que aqui passarem. Álisson Oliveira (Orzabal Duran)